quinta-feira, 21 de julho de 2011

SOLIDÃO CONTENTE - Ivan Martins

Oi,

Uma grande parte das pessoas cresce aprendendo a colocar o outro em primeiro lugar, a achar que é egoísta pensar primeiro em si mesmo etc. Por questões culturais e religiosas, "desaprende" a se amar...
Ninguém ensina que quando crescemos o saudável é aprender a ser mãe e pai de nós mesmo, para não  correr o risco de passar a vida adulta fazendo os outros de muleta...

Porque se a gente não se cuida, acaba vivendo relações patológicas, baseadas na carência, no medo de estar só, na crença de que a felicidade depende de circunstâncias externas e da participação de outras pessoas em nossas vidas. E o vazio só aumenta, porque não há quem possa dar conta do "buraco emocional" do outro.

Cada um vai descobrir o caminho que o levará de volta ao amor próprio e ao reencontro consigo mesmo. Este caminho será trilhado com harmonia ou não, com mais ou menos sofrimento, a depender das escolhas  e das possibilidades de cada um. Mas não há como ser feliz, como viver a plenitude da nossa existência sem se entregar a este encontro que temos com este grande amigo que habita o nosso ser.

E foi para isso que passei aqui hoje, bem rapidinho: para lembrar o quanto é importante priorizar este compromisso em nossas vidas, um encontro consigo!


O texto abaixo foi a mensagem que escolhi para enviar para os amigos ontem e uma das respostas que recebi me tocou profundamente... Uma amiga contando o quanto ela valoriza a própria companhia, separa um tempo em especial para estar consigo mesma e a maioria das pessoas não a entende... ("porque Narciso acha feio o que não é espelho"??).


Inspirada pelo depoimento dela, quero compartilhar com você esta reflexão.
Se estiver com pouco tempo agora, volte depois e leia o texto abaixo com calma e atenção, como se estivesse se dando um presente... Quem sabe, o primeiro de muitos dos merecidos presentes que você merece receber de si mesmo?

Quer saber? Ame-se profundamente e seja muito feliz!
Tudo mais é consequência!
Beijos com carinho...




SOLIDÃO CONTENTE
O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas

*por Ivan Martins
Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre solidão feminina com alguma incompreensão.
Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.
Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente e mora sozinha.
Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.
Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa, disse a prima. Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas.
Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.
Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.
A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.
A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.
Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?
A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior com apoio da publicidade.
Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando senão a economia não anda.
Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.
Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer.
Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos.
Repasse para suas amigas, especialmente para as que não sabem fazer sua "solidão contente!" e para seus amigos entenderem e valorizarem a riqueza interior de certas mulheres comparada aos homens.

*Ivan Martins é editor-executivo de ÉPOCA

2 comentários:

  1. Verdade verdadeira, fênix querida! Já havia lido o texto que você nos mandou e já o conhecia, acho-o o máximo. Quando a gente descobre dentro de nós mesmos a melhor compainha do mundo, com o o outro flui muito mais!
    beijos,

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  2. Estar sozinho não significa necessariamente estar solitário.
    Eu adoro minha própria companhia! Até que sei viver bem comigo mesma. Travo diálogos internos bastante intensos, eu mesma pergunto, lanço as opções e me respondo. E tbém falo sozinhas as vezes... rsrsrs...
    Adorei o texto!
    Bjo.

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